20080726

a flor do oeste



I.

a flor-do-oeste veio do lado do mar
e veio com ela o silêncio
veio com ela a distância nostálgica

a flor-do-oeste nasceu no poente
trouxe a esperança e criou o sol nascente

ainda hoje deuses esquecidos louvam
a flor-do-oeste - a flor utópica futura




II.

a flor-do-oeste partiu com o príncipe
e a legião dos homens partiu-se em duas
os antigos artífices da memória
e os adoradores do mistério da luz

esta é a herança da flor-do-oeste




III.

eu era uma serpente
mas uma voz encantadora transformou-me
num homem simples

a voz serena é o que tenho da flor-do-oeste
hoje escrevo este poema
e revejo-a na minha memória




IV.

a flor-do-oeste veio para tranquilizar os homens

eu nasci no verão violento
e hei-de morrer na primavera de luz e sem dor

com a flor-do-oeste aprendi a amar a humanidade
a fornalha transformou-se numa onda doce
quando deixar de ser, vou louvar a flor-do-oeste




V.

a flor-do-oeste não precisou de criar a floresta húmida
criou o oriente - desejado desde tempos sem memória
os homens conheceram a casa da linguagem - a sua
no abrigo das tendas, acordaram rodeados de orvalho

a ocidente, antes do pôr-do-sol, nasceu uma hesitação



Carlos César Pacheco, 2006, Julho, Agosto, Setembro

13 comentários:

Maria Oliveira disse...

Escrita excelente, sem dúvida!
Parabéns!
Abraço

* hemisfério norte disse...

após a linha contínua
- a partida
- o silêncio maciço

bj
a.

Lucy Maltez disse...

lindo...
tanto que vou postar um fragmento seu..
licensa?
rs
confira la no meu blog.
bj

Lucy Maltez disse...

ah...
linkei vc.
vou voltar mais vezes.

bsh disse...

Gostei muito!

http://desabafos-solitarios.blogspot.com/

Renato disse...

E o cheiro fresco do seu poema veio do oeste e meu trouxe até aqui.

Amei.

Abraços!

Xinha disse...

"a voz serena é o que tenho da flor-do-oeste
hoje escrevo este poema
e revejo-a na minha memória" - Lindo !

Gosto da sua escrita. Voltarei para ler mais !!

Xi-coração

Anónimo disse...

Que confusão !!!!
Tal como o excesso de condumentos não faz u bom prato.. a sofreguidão depois da fome mata !!
Lamento !

Emanuel Azevedo disse...

Lindo, lindo... Muitos parabéns

Dalaila disse...

e contam-se e contam-se como se lêem à volta das palavras, belissimo

Anónimo disse...

com tamanha inspiração
daquela que nem todos os dias temos
fazem de mim as palavras escritas
as palavras que todos aqui vemos
não são palavras por si mesmo ditas..



(escrito por mim: Raquel Almeida)

Carla disse...

aroma florido!
beijos

FatinhaMussato disse...

Como te havia dito: gostei muito de tudo o que li!

"às vezes é preciso um dedo apontado
para acordar outros dedos"

Apreciei em especial esse trecho que aqui cito, mas amei todos os românticos, como eu mesma sou!
Beijinhos de luz!
FatinhaMus

Palavras nos meus poemas:

A minha foto
[autobiografia]


gosto principalmente de não fazer nada, assim deitado de costas, aguardo que as nuvens formem letras por cima da minha cabeça (cavalos, não! - se formarem cavalos, fico logo irritado, mesmo que chova em seguida); aprecio principalmente os textos ritmados , e se se trata de poesia, o soneto; quanto ao conteúdo, que esconda sob a singeleza aprofundada reflexão; e a música, a composição dos elementos para instrumentos naturais, que seja harmoniosa e com conteúdo formal; em suma, aprecio boa música e boa literatura (nada de modernices); também gosto de melancia.

Nota: todos os textos neste espaço estão registados no IGAC, mas podem ser livremente copiados, desde que me mencionem como autor, tenham o link http://forteondaserena.blogspot.com/ e reproduzam esta nota, sem alterações.
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[biografia]

Não (se ?) sabe se nasceu. Segundo o pai: “nunca há-de ir a lado nenhum”. Não frequentou a escola de Belas-Artes. Frequentou, sem êxito perceptível, a faculdade de ciências. Segundo alguns familiares: “é egoísta e só pensa em si próprio”. ...linguagem... ...conceptual... ...som... (...de que é a forma do espaço agarrado por uma mão aberta...) Em Agosto de 1992, vestiu-se, comprou um jornal, leu diversos anúncios. Segundo o pai: “ainda não sabe o que anda aqui a fazer”. Não conheceu Feldman, Scelsi ou Nono. É quase cego, gastando por isso muito tempo a olhar. Diz frequentemente: «século xx», «trinta e cinco mil anos», «dezasseis mil milhões de anos». Não faz nada.

Não assistiu à conferência “A arte como modo de conhe­cimento” de Jacob Bronowsky nas A. W. Mellon Lectures in Fine Arts em 1969, na National Gallery of Art de Washington D. C.; Segundo o pai, "vai morrer a fome pois não gosta de trabalhar”. Não se sabe onde estava, em Maio de 1833; Apesar de gostar de estar sentado, gosta muito de andar de comboio; “Consciência” — conceito fundamental; Escreve e fala fluentemente português; Em 1997 viu uma árvore; Desenvolveu um sistema que lhe permite estar vivo sem que o pareça; Gosta de estar parado; Não gosta de dormir; Gosta de fazer.
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ao mar

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