elegia para uma amiga morta por vontade própria
sete anos depois
braços caídos estendidos braços abertos
abraços em silêncio de braços contidos
entre-braços descobertos. aos esgares abraços
trementes braços alegres abraços de braços
tristes. próximos. últimos entre-lágrimas
braços. sombrios. pendentes abraços plenos
de braços sem vida abraços estreitos por braços
interrompidos graníticos. fechados
eternos entre-cordas
oito anos depois
junto às favelas. na margem do rio
com um livro na mão. estava aberto
doía-te a cabeça. não lias
tinhas os olhos e eram impossíveis
antes já te tinha reconhecido
pelo menos sem o saber
tu também ou parecera-me
de qualquer modo levantaste-te
assim que me aproximei
começámos a caminhar ao longo da margem
/ vinhas de longe
disseste-me entre silêncios
o tempo distendia-se
tudo ou quase tudo pela primeira vez
e nunca mais paramos
nove anos depois
afinal teria sido fácil salvar-te
bastava ter corrido através do muro
esticando o passo através do tijolo e da argamassa
/ querias morrer
e eu não soube diluir-me
Elegia para a minha amiga Fá, que um dia morreu por vontade própria.
Carlos César Pacheco, 1992, 93, 94 - Outubro 17
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20081004
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