sabes guardar um segredo, perguntou a velha, visivelmente ansiosa. Outros olhos, mas não os dela, notariam o tédio na resposta mole que ele atirou. Com crescente ânimo, começou a falar-lhe dos seus tempos de juventude, onde jurara não conceber. Discorreu durante minutos, sempre distante, como se falasse de longe, ou nunca tivesse sido mais do que uma miragem; enquanto ele aqui e ali empenhando-se em segurar a cabeça, tonta de sono, apanhava uma ou outra palavra, vagamente consciente da impossibilidade de as recontextualizar, da facilidade com que ela poderia aperceber-se e da fatalidade que isso seria. A velha acabou por calar-se, e silêncios depois, pediu-lhe um copo de leite. Como um balde de água fria; aparentou resolução de movimento; abandonou a mão dela sobre a mesa; e distanciou-se na direcção do corredor, sem deixar de exibir uma carantonha pensativa, como se reflectisse nas palavras |
20090825
o segredo
Carlos César Pacheco, 17 de Outubro de 1993, 18h
Etiquetas:
1993
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7 comentários:
consigo imaginar tão bem as 18h num qualquer moleskine (ou afins) perto de ti
tu és uma caixinha de surpresas
de onde menos se espera
e agora só me consigo lembrar daquela expressão "cuidado com o que desejas"
Be good
Paula dixit
Quando os segredos se tornam palavras...
Deixo a minha admiração
bons instantes...
Gostei de vir parar aqui, de ler seus posts...voltarei mais vezes.
É isso aí.
[ ]´s
Tenho-o lido nos e.mails... mas dá-me prazer visitar o seu espaço.
Bom momento de leitura.
Beijos.
Tu é fenomenal, desculpa a pessoa, mas é tão plena a intimidade dos teus textos. Gosto particularmente deste, um registo prosa poética que me agrada muito. Porém o poema: Principio de um alfabeto é soberbo ...
Convido-te a visitar o meu modesto blog http://palavrasinverso.blogspot.com
Gostei bastante da descrição auto-biográfica. Não quer isto dizer que não gosto deste texto em particular ou dos outros que por aqui vão. Simplesmente ainda não os li.
Anónimo
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