20080809

canção de amor


1.

gostava de ser criança outra vez
para te poder procurar, através dos anos


no espelho vejo um brilho triste
/ são dos olhos que não te reflectem

acordei com o desejo de beijar-te as mãos

tenho um sorriso nos lábios, penso em ti



2.

acredito com a certeza da grande muralha da china
que um dia este amor há-de passar

tenho vontade de não dormir / irresistível tentação
quero fazer nada

a grande muralha abriga o meu coração disforme

o pensamento aberto encontra o silêncio
palavras com o sentido de tudo o que quer ter sentido

quero ir para o espaço, deixar a terra natal
antes de não existir, sou, agora, pleno, vivo / inerte

que sorte tem o mundo por existires
a vida é curta mas gostava de te amar para sempre



3.

/ pensamento ordenado – para quê?
/ vale a pena estar parado
/ fazer nada
/ estoirar com cada segundo
/ pairar
/ esquecido do tempo, abstracção, fútil, prática

/ quero ir à mongólia, diluir-me na música, dias depois de dias

tudo o que tem interesse prático,
.................. disfarça o que realmente importa
.................. / ser



4.


sou um touro
com uma lança trespassando o coração
corro pela lezíria, livre
sem pensar
adormeço abrigado pelas acácias

sou um touro meigo, preto

sou um touro
com o coração trespassado por uma lança
transporto um sorriso nos lábios
corro pleno de vida, agora
com sede de amar todos os companheiros
caminho de braços abertos

na estrada larga
a poesia transborda nos meus olhos
não tenho que compreender o mundo
sorrio sem ter de sorrir

onde estou? // sou



5.

estou aqui preso nesta jaula
uma jaula redonda e muito grande, é certo

uma deusa da antiguidade clássica
porque hão-de fazer-se coisas com sentido
escrever significando o perceptível

posso caminhar em qualquer direcção
que as paredes se afastam de mim
cercando-me à velocidade com que caminho
agrilhoado pela força da gravidade

/ porque desejo o impossível?
a jaula é tão grande que parece plana



6.

os antigos fenícios, antes deles os chineses
mas esses não são os meus antepassados

/ era pequeno e o mundo parecia infinito


Carlos César Pacheco, 9 a 28 de Agosto de 2006

5 comentários:

* hemisfério norte disse...

todo o mundo é pequeno
.............. finit.u
por isso
tem vida t
ão curta
..
pior são os "" fúteis
isentos
de sabo
r es
ocos
sós
bj
a.

Iolanda Aldrei disse...

Meu amigo,
nao sei quem é, mas sei que escreve, que chega a onde chega no touro o metal. Quando os seus poemas chegam ao meu correio, a sala ecoa versos com odor a sul. Obrigada.
Iolanda R. Aldrei
Como chega tanto arte ao meu correio?

Dalaila disse...

o infinito que não se perde quando se cresce porque as palvras assim o dizem

Anónimo disse...

Estamos perante uma escrita inovadora, semântica e literarimente muito rica.Eu agasalhá-la-ia com mais prudência, pois merece troféu.
A sua escrita não é pequena e a net é infinita.

Os beijos com sol sabem a fogo.

Carlos César Pacheco disse...

Caro/a "anónimo/a", o seu comentário deixou-me apreensivo. Pode escrever-me directamente? O meu mail é carlos.c.pacheco no gmail.

Palavras nos meus poemas:

A minha foto
[autobiografia]


gosto principalmente de não fazer nada, assim deitado de costas, aguardo que as nuvens formem letras por cima da minha cabeça (cavalos, não! - se formarem cavalos, fico logo irritado, mesmo que chova em seguida); aprecio principalmente os textos ritmados , e se se trata de poesia, o soneto; quanto ao conteúdo, que esconda sob a singeleza aprofundada reflexão; e a música, a composição dos elementos para instrumentos naturais, que seja harmoniosa e com conteúdo formal; em suma, aprecio boa música e boa literatura (nada de modernices); também gosto de melancia.

Nota: todos os textos neste espaço estão registados no IGAC, mas podem ser livremente copiados, desde que me mencionem como autor, tenham o link http://forteondaserena.blogspot.com/ e reproduzam esta nota, sem alterações.
.
[biografia]

Não (se ?) sabe se nasceu. Segundo o pai: “nunca há-de ir a lado nenhum”. Não frequentou a escola de Belas-Artes. Frequentou, sem êxito perceptível, a faculdade de ciências. Segundo alguns familiares: “é egoísta e só pensa em si próprio”. ...linguagem... ...conceptual... ...som... (...de que é a forma do espaço agarrado por uma mão aberta...) Em Agosto de 1992, vestiu-se, comprou um jornal, leu diversos anúncios. Segundo o pai: “ainda não sabe o que anda aqui a fazer”. Não conheceu Feldman, Scelsi ou Nono. É quase cego, gastando por isso muito tempo a olhar. Diz frequentemente: «século xx», «trinta e cinco mil anos», «dezasseis mil milhões de anos». Não faz nada.

Não assistiu à conferência “A arte como modo de conhe­cimento” de Jacob Bronowsky nas A. W. Mellon Lectures in Fine Arts em 1969, na National Gallery of Art de Washington D. C.; Segundo o pai, "vai morrer a fome pois não gosta de trabalhar”. Não se sabe onde estava, em Maio de 1833; Apesar de gostar de estar sentado, gosta muito de andar de comboio; “Consciência” — conceito fundamental; Escreve e fala fluentemente português; Em 1997 viu uma árvore; Desenvolveu um sistema que lhe permite estar vivo sem que o pareça; Gosta de estar parado; Não gosta de dormir; Gosta de fazer.
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ao mar

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